29 de agosto de 2011

feche os olhos. Veja bem!

Lhe voltam os olhos, a boca, o dedo em riste, o sorriso inacreditável, a testa franzida e dizem de tempos em tempos:
- "Você mudou, sabia?"
Recebe-se a informação e invariavelmente se alimenta o viveiro de minhocas nas cabeças criativas ou os ouvidos de um amigo franco camarada. 
- "Foi pra pior? Foi pra melhor?"
(seguido de auto comiseração, desafetos ou reflexões libertadoras).


Hoje eu vi, me vi.
Tinha escrito há um tempo atrás: "Das coisas que mais quero, sentir é a maior delas." 
Hoje, percebo ter me tornado diferente de mim mesma e achei melhor. 


"das coisas que mais quero, crer é a maior delas."



7 de agosto de 2011

coragem, o cão covarde.



Assombro
O amor assusta porque ao nascer já anuncia: posso acabar. Pior: o amor do outro 
pode acabar. Ou nada disso: pode a vida e o dia e as horas serem mais fortes que
qualquer impulso, e o que era um-mais-um torna-se um a um. E o que resta é cada 
um levando como pode o que pulsa em si.
O amor é ter a perder.
Ou não ter nada. É tudo e todo o medo e todos os perigos. Ou nada e paz. Ou nada.
O amor que nasce é assustadoramente amor. O amor que segue sozinho é 
assustadoramente só. Não há meio-termo porque o que o amor quer é coragem, o 
amor quer entrega, o amor sempre quer. Nem sempre é harmonia, nem sempre 
delicadeza. Mas sempre amor. Até não mais. E isso demora.
É maior que nós, o amor. Faz sombra e assusta. Até que se veja dele o seu 
verdadeiro tamanho. A sombra do amor assusta. Até que se entenda que ela é 
sombra e só.
O amor nos pede a escolha: ser do tamanho do medo ou da coragem.
c.Guerra
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Filha,
Dias atrás ouvindo uma musica popular brasileira, ouvi esta linda e poetica frase:
"Ah coração, se apronta pra recomeçar! Ah coração, esquece esse medo de amar de novo!"
Pois é. A vida é um eterno recomeçar e jamais deveriamos ter medo de amar "outra vez".
Beijos,
Papi

{sinto medo pai, confesso.}

3 de agosto de 2011

estrada de Itapecerica, 5859.

Durante cinco anos a última estação da Linha Roxa do metrô foi a referência mais próxima de onde morei. Hoje pouco tempo depois, as vergonhas transformam-se paulatina e orgulhosamente em trunfos de guerra: das batalhas diárias no trânsito do "Morro do S", dos ataques do/ao PCC nas madrugadas, paralelo ao meu comportamento noturno juvenil, da canseira em dias de eleição Jardim Irene acima, dos distantes mais resistentes corações de pai e mãe.

Ali conheci um SUS que funciona. Fiz uso dele, trabalhei por ele e me orgulhei dele do pré-natal ao parto do "afilhado" no Hospital Campo Limpo. Andei sem medo do jeito que sempre fui, em tantos Jardins quanto for possível enumerar. Encontrei o melhor, o mais improvável e menos ganancioso cabelereiro, de quem continuo cliente. Fui furtada uma vez, atacada nunca. Na lista das compras no cartão de crédito lia-se: material de construção, carne e gasolina. Na certa era final de semana pra bater a laje e fazer churrasco no puxadinho. Vi gente considerar Santo Amaro o centro de São Paulo. 

Ouvi de mortes, drogas e tragédias. Quermesses e funk tornaram-se rotina de um mundo sem fones de ouvido. Tratei com cautela meu gosto musical, valores, crenças e idéias. Continuo preferindo outros rítmos e acreditando no que me foi ensinado anteriormente a esse contexto. Fiz e refiz amigos pra vida inteira.

Mano Brow, ONGs, becos, CEUs, HIP HOP, Gente Muda, a casa do Victor, mulequinho que aprendi a amar tornaram-se chegados, tudo comunidade, tudo 1daSul. Enfim, pegar o ônibus errado deixou de ser questão preocupante, só o "mano" que a língua custa se desvencilhar. Com alegria, da ponte João Dias em diante aprendi de um Deus misericordioso, de mim mesma e do outro. Aprendi a profissão da minha vida! 

E o Capão Redondo perdendo em muitos aspéctos, tornou-se dádiva. Não que tudo isso por si só tenha mais brilho, não! É que por lá o ar é bem mais limpo do que por aqui no Elevado Costa e Silva.


2 de agosto de 2011